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Por favor confirme... (22/set/2025)

1. Historinha sobre o sistema
2. Historinha sobre relatórios
3. Por favor confirme...

Na aula de λ-cálculo de 22/set/2025 eu avisei pros alunos - logo depois da parte expositiva da aula, que é sempre bem curta - que a turma estava dividida entre "alunos que falavam comigo" e "alunos que não falavam comigo de jeito nenhum" e pedi licença pros "alunos que falavam comigo" porque eu precisava resolver um problema com os "alunos que não falavam comigo de jeito nenhum" que tava me deixando MUITO PUTO. Aí eu distribuí versões impressas das três seções abaixo, pedi pra todo mundo ler as duas historinhas, e depois li em voz BEM ALTA as perguntas e respostas da seção "Por favor confirme", e perguntei pros "alunos que não falavam comigo de jeito nenhum" se eles confirmavam todas aquelas respostas. Eles não conseguiram falar absolutamente nada, e eu pedi pra eles irem embora.

A versão PDFizada das três seções abaixo está nas últimas páginas daqui.


1. Historinha sobre o sistema

O Alex, o Bob e mais três colegas que estudaram junto com eles começaram a estagiar na mesma empresa. A principal tarefa deles é coletar dados e pôr esses dados no sistema da empresa, que é super mal feito. Além disso a documentação dele é incrivelmente ruim, e é a coisa mais chata de ler do mundo.

Esse sistema foi feito pelo programador principal da empresa, o programador Fulano, e o sistema se chama FuDados.

O Alex está tentando entender o sistema sozinho usando o ChatGPT e o Claude Code. O Bob tentou entender o sistema sozinho durante um tempo mas depois ele começou a mandar umas perguntas por e-mail pro programador Fulano, com cópia pra toda a equipe.

As respostas do programador Fulano eram muito mais legíveis do que a documentação que ele tinha escrito antes. Um problema que o Fulano teve quando ele estava escrevendo a documentação original era que ele não sabia pra quem ele estava escrevendo, e é muito difícil a gente escrever algo decente quando a gente não tem idéia de pra quem a gente está escrevendo, e a gente fica lembrando de pessoas que queriam que a gente escrevesse numa linguagem formal, pomposa e chata - como por exemplo a do livro de GA do Venturi:

VenturiGA

Agora quando o Fulano escreve alguma coisa pra empresa - documentação, telas do sistema, e-mails - ele imagina que está escrevendo pro Bob, e tudo ficou muito melhor. O Bob também perdeu o medo, e agora ele também escreve bem mais rápido.

Os colegas do Bob também ficaram super gratos ao Bob, e agora eles se ajudam, conversam, e trocam favores - exceto pelo Alex, que continua fazendo tudo sozinho com o ChatGPT e o Claude Code.

Como é que o Bob aprendeu a perguntar? Será que ele já nasceu sabendo? Não!!! Quando ele entrou pra faculdade ele era péssimo, ele era quase que patologicamente tímido, e quando ele tinha dúvidas ele achava quase todas as dúvidas dele muito ruins. Mas ele viu que se ele estudasse sozinho bastante ele conseguia responder 90% das dúvidas dele ele mesmo, e ele começou a tentar reescrever as outras dúvidas várias vezes até elas virarem dúvidas das quais ele não se envergonhasse muito...

Tanto o Bob quanto os colegas dele cresceram assistindo séries que tinham garotos calados que um dia faziam uma pergunta genial e aí um professor descobria eles e acabava mandando eles pro MIT. Durante um tempo o Bob ficou tentando preparar perguntas geniais, mas ele viu que era bem raro ele ter perguntas geniais, e ele começou a investir mais energia nas perguntas que podiam parecer bobas mas que possivelmente eram dúvidas que outras pessoas também tinham, e isso deu super certo.

Além disso o Bob prestava muita atenção nas perguntas dos outros, e ele foi descobrindo um monte de técnicas pra fazer perguntas que ele achasse boas... por exemplo, ele aprendeu a fazer perguntas que mostravam o que ele sabia o que não, o que ele tinha entendido, e onde ele tinha empacado.

O Bob aprendeu a fazer boas perguntas prestando atenção nas perguntas dos outros, e agora tanto o programador Fulano quanto os colegas do Bob - exceto o Alex, claro - estão aprendendo a fazer perguntas melhores prestando atenção nas perguntas do Bob.


2. Historinha sobre relatórios

Nesta historinha o Alex e o Bob também estão trabalhando no mesmo lugar.

Uma das tarefas que deram pro Alex e pro Bob é verificar se uma certa máquina está funcionando direito. Essa máquina produz cabos pra um submarino ROV; cada cabo que ela faz precisa ser testado, e quando ela produz um cabo ruim ou o Alex ou o Bob precisam fazer um relatório que vai ser lido pelo especialista naquela máquina, que vai usar o relatório pra descobrir o que aconteceu com a máquina e consertá-la. O Bob tem uma boa noção de como escrever relatórios que ajudem o especialista a encontrar o defeito bem rápido, mas o Alex faz relatórios que parecem com as provas de Cálculo que ele fazia na faculdade... mais ou menos assim:

[rabiscos]

Quando o Alex fazia uma prova assim ele ia na vista de prova, dizia pro professor que ele tinha estudado muito mas a letra dele era ruim, e ele sempre conseguia convencer os professores de que aqueles rabiscos tinham exatamente a resposta certa - afinal os professores não tinham como provar que a resposta certa não estava lá. Mas na empresa isso não funciona - os relatórios do Alex deveriam servir pra economizar o tempo do especialista, mas eles não estão servindo pra nada e estão só fazendo o especialista perder tempo e ficar puto.

Talvez o objetivo dos cursos de Cálculo 1 do PURO seja só ver se o aluno "sabia a matéria" - e aí os rabiscos do Alex eram mais do que suficientes pra ele passar. Mas os alunos têm que se formar sabendo escrever "relatórios impecáveis que sejam úteis pra outras pessoas", e nas matérias de 2o, 3o, 4o período, etc, os professores começam a cobrar que as provas pareçam cada vez mais com "relatórios impecáveis que sejam úteis pra outras pessoas" e cada vez menos com "rabiscos" - e aos poucos os alunos vão aprendendo a escrever de jeitos cada vez mais claros e legíveis.

Eu ainda não consegui entender quais são os critérios de correção dos meus coleguinhas que fazem parte das bancas de revisão de prova. Eles deveriam ter critérios que premiassem quem faz provas que parecem com "relatórios impecáveis que sejam úteis pra outras pessoas" e punissem provas difíceis de ler, com passos sem pé nem cabeça, ou com indícios de cola, e imagino que eles deixem os critérios deles claros nas turmas deles, nas matérias que eles dão... mas sei lá, não consegui descobrir quase nada, nada faz sentido... veja aqui:

http://anggtwu.net/2025-06-26-bel.html


3. Por favor confirme...

Q1: Você sabe que eu já dei essa optativa pra pessoas que sabiam só um pouquinho de Matemática Discreta e funcionou super bem?
A1: SIM.

Q2: Você já ensinou alguma coisa de Matemática ou de Computação pra algum amigo seu?
A2: SIM.

Q3: Você viu que você tinha que descobrir o que a pessoa sabia e o que ela não sabia pra encontrar as explicações que funcionassem?
A3: SIM.

Q4: Você lembra que eu já disse várias vezes que essa optativa é pra pessoas de todos os níveis mas que eu preciso que as pessoas falem comigo pra eu descobrir o que elas podem fazer que esteja no nível delas?
A4: SIM.

Q5: Você quer ser como o Bob das historinhas anteriores quando você crescer?
A5: SIM.

Q6: Você está fazendo algo pra isso?
A6: NÃO.

Q7: Você gosta de conviver com pessoas que não vão falar com você de jeito nenhum?
A7: NÃO.

Q8: Você costuma se imaginar no lugar dos outros?
A8: SIM.

Q9: Você entende que muitas vezes a coisa mais importante numa pergunta é que ela faz com que a outra pessoa entenda como a gente está pensando?
A9: SIM.

Q10: Se eu implorar de joelhos pra você fazer alguma pergunta - no sentido acima - pra mim você vai falar comigo e fazer alguma pergunta pra mim?
A10: NÃO.

Q11: Se eu implorar de joelhos pra você me explicar porque é que você prefere não falar comigo você vai explicar?
A11: NÃO.