Resposta ao ofício do RGN (de 2025)
Está página é uma resposta ao ofício do RGN que começa com:
E que pode ser consultado aqui: HTML, PDF. Como eu - Eduardo Ochs - levei seis meses pra saber da existência desse ofício e mais dois meses pra ter acesso a ele e ao anexo dele eu achei melhor respondê-lo publicamente ao invés de responder só pra chefia do RCN. Os detalhes estão nos links abaixo. O ofício do RGN de 2023 está aqui:
HTML,
PDF. Minha resposta pra ele: 2023-caepro.
1. Algumas datasSobre o ofício de 2023: veja aqui.
Sobre o ofício de 2025:
2. Resposta pros itens principais2.1. AtrasosO item 1 do ofício é sobre atrasos. A melhor resposta pra isso está no relatório final do processo administrativo contra mim. A comissão do PAD analisou os registros dos horários de início das minhas aulas - veja isto, Issomuda#05:50, e a tabelona - e não viu problema nos meus atrasos... isso foi o que a Irene, que foi a secretária do PAD, me disse informalmente, mas o relatório final do PAD ainda não saiu. Sugiro que a gente faça como o Fábio fez aqui - RcnMar2025#33:57 - e a gente espere 10 anos até o PAD terminar. 2.2. Dificuldade de diálogoO item 5 do ofício é:
Na reunião em que eu fui massacrado, em jul/2022, o Reginaldo disse uma coisa que me deixou pasmo: "não temos como saber o acontece nas aulas do Eduardo". Ora, durante a pandemia as minhas aulas foram por Telegram, e eu tinha os logs de todas elas... e logo depois da reunião em que eu fui massacrado eu decidi deixar esses logs públicos, e agora eles podem acessados aqui na tabelona - clique nos links com "L" na coluna "Logs". Por esses logs dá pra ver como eu lidava com dúvidas durante a pandemia. O que mudou depois? Bom, durante a pandemia só os estudantes "melhores" se manifestavam nas aulas onlines - e por mais que eu me esforçasse pra criar um ambiente em que todo mundo ficasse à vontade pra conversar tinha muitos estudantes que não interagiam nem com os outros nem comigo de jeito nenhum, e era comum eu ver provas e trabalhos em que parecia que os alunos tinham colado, mas eu não tinha como provar... O meu material de Cálculo 2 tem muitas páginas que são pra convencer os alunos a perguntarem - tanto pra mim, quanto pros colegas, quanto pra si mesmos; veja os personagens da Dica 7, em 2jT20 - e tem várias páginas sobre o que são perguntas boas e perguntas ruins... por exemplo, "Faz um vídeo explicando o PDF?" (2jT33) é uma pergunta/pedido bem ruim - e boa parte desta página é um desabafo bem amargo sobre a dificuldade que os alunos da EP têm de compartilhar e de perguntar. Aqui tem alguns links:
Eu acho que o que pode ter acontecido é o seguinte. Pra muitos dos alunos de hoje em dia fazer perguntas é tão, tão, tão difícil que o máximo que eles conseguem, com MUITO esforço, é fazer perguntas/pedidos como "Faz um vídeo explicando o PDF?" - da história no 2jT33 - ou "Professor, qual é a fórmula?" - de Slogans#02:36... que eu vou chamar de "perguntas péssimas". Então a tradução do que eles estão pedindo pra coordenação é:
Também é possível que esses alunos que falam em "Dificuldade de diálogo com o professor, principalmente para sanar dúvidas" tenham perdido as primeiras aulas do curso - que tinham uma introdução a como o curso ia ser - e aí tenham vindo falar comigo e eu não tenha conseguido descobrir o suficiente sobre o que eles sabiam ou não pra recomendar algo realista pra eles lerem e tentarem fazer... ...e eles - esses alunos que chegaram depois - viram os outros alunos fazendo os exercícios e discutindo em grupo e comigo, e ficaram paralisados. Mas se foi isso que aconteceu a gente vai precisar de mais detalhes pra descobrir - então da próxima vez que aparecerem reclamações assim por favor peçam pra esses alunos consultarem as fotos dos quadros e o "PDFzão" daquele semestre - pode ser por aqui pela tabelona - e indicarem as aulas em que eles ficaram totalmente perdidos e eu não consegui recomendar atividades que fizessem eles se desperderem... 2.3. MaximaO item 3 do ofício é:
Os estudantes estão chegando em Cálculo 2 sem saberem praticamente nada da matéria do Ensino Médio e sabendo pouquíssimo da matéria de Cálculo 1 - e desde 2023.2 eu estou sempre aplicando uns testes de nivelamento no início do curso pra eu ter provas documentais do nível deles (2kT78, 2jT56, 2iT67, 2hT64). Repare:
A gente deve cobrir esses assuntos no curso ou não? A resposta mais óbvia é esta,
...mas eu nunca vi ela ser posta por escrito. Ela foi dita na reunião em que eu fui massacrado, que não foi gravada e não teve ata, e eu contei essa história aqui - CaepDiffP2, Oquesobra#05:54 - mas só. Vocês - coordenação - teriam coragem que me dizer, publicamente e por escrito, algo como isto?
Não, né? Então vamos tentar traduzir essa reclamação dos alunos pra algo que faça sentido. Eu tenho repetido muito pros alunos que "às vezes é muito mais rápido aprender A e depois B do que aprender direto B" - a primeira vez que isso aparece no PDFzinho de introdução ao curso é aqui:
A gente quer maximizar:
Pra mim - pra mim - uma das soluções pra isso é a gente ter uma tonelada de material pra cada curso que a gente dá, e esse material incluir:
O Maxima tem servido pra vários destes itens. Dá pra ver alguns exemplos no PDFzão de 2024.2 - procure pelas páginas em azul e vermelho aqui: 2jT1. Sobre "aprender Maxima", repare que isso tem vários níveis - desde "aprender a ler alguns programas simples em Maxima com ajuda" até "aprender a escrever os seus próprios programas". Nos mini-testes de Maxima eu só cobrava que os estudantes tivessem aprendido a usar o Maxima com uma certa interface, e aí acessassem algum exemplo que tava na internet, mudassem alguma coisa nele, e salvassem a versão nova. Os detalhes técnicos estão aqui e aqui. Sobre "no computador pessoal do professor": quase todos os estudantes que decidiam aprender Maxima instalavam ele nos seus computadores pessoais, numa máquina virtual com Linux - mas o mini-teste era no meu laptop, num ambiente exatamente igual ao que eles tinham instalado. Eu disse "quase todos" porque alguns alunos que não tinham computador aprenderam tudo o que precisavam usando um computador do LabInfo do IHS - e em 2024.2 três alunas que não tinham computador e não sabiam inglês aprenderam tudo no LabInfo - e elas me mostraram como elas usavam tradutores automáticos. "Aprender Maxima" era "opcional mas muito recomendado". Em 2024.1 - o semestre da greve - só 14 alunos fizeram a P2; desses 14, 8 foram aprovados; e desses 8 um deles não faz nenhum dos mini-testes de Maxima. Em 2024.2 eu tive 18 aprovados, e dentre esses 18 teve 6 alunos que ou não fizeram o mini-testes de Maxima ou tiraram 0 nele. Acho que isso deixa claro que "aprender Maxima" não era obrigatório, né? Talvez esses alunos que fizeram as reclamações estivessem reclamando que em 2024.1 a instalação era difícil. No início da greve a instalação ainda era bem difícil sim, e dois alunos - Caio Palhares, de Cálculo 3, e Gabriel Lacerda, de Cálculo 2 - passaram muitas horas comigo no Telegram me ajudando a melhorá-la. Quando a greve terminou ela já estava bem mais fácil, e agora quase todas as pessoas, mesmo as que dizem que não entendem quase nada de computador, conseguem instalar tudo e rodar vários exemplos - em Linux, lembre!!! - em pouco mais de uma hora. 2.4. Como um macacoO item 4 do ofício começa com:
A expressão "como um macaco" vem de um vídeo do Mathologer que eu lengendei em português, e que eu uso dois trechos dele no curso de C2. Veja a página 2iT43, que eu costumo usar na segunda aula, e que diz:
As menções ao macaco estão no segundo trecho que eu uso - aqui: CalcEasy#15:12 e CalcEasy#18:18. Dê uma olhada. "Derive como um macaco" quer dizer "aplique um algoritmo como um computador faria - sem entender o que cada passo quer dizer". Pra responder isso eu vou precisar fazer duas simplificações. Na primeira simplificação o "conhecimento matemático" pode ser dividido em "entendimento conceitual" e "conhecimento operacional" - eu vou ignorar as outras categorias que eu já vi em livros e artigos sobre Ensino de Matemática e sobre Filosofia da Matemática. Na segunda simplificação o item 4 do ofício _só_ pode ser interpretado de dois modos: na primeira interpretação a coordenação da EP tem uma noção de que a reclamação dos alunos está errada mas não tem as ferramentas conceituais para respondê-la, e a coordenação está pedindo ajuda pra dar uma resposta pros alunos que os convença; e na segunda interpretação a coordenação acha que os alunos estão certos. Nos meus primeiros semestres como professor eu acreditava que o "entendimento conceitual" bastava, e que se os alunos entendessem os conceitos eles saberiam fazer as contas direito, saberiam detectar os erros e saberiam escrever as idéias deles de modo minimamente legível. Depois eu vi que não, e que além do "entendimento conceitual" eles precisam ter uma certa proficiência nas contas e na notação matemática - e sem isso eles não conseguem nem mesmo expressar as suas idéias de modo minimamente inteligível... e também não conseguem ver onde eles estão sendo ambíguos, e não conseguem formular hipóteses com um mínimo de clareza, e portanto não conseguem testar as suas hipóteses. Eles precisam das duas coisas - o "entendimento conceitual" e o "conhecimento operacional" - e o "conhecimento operacional" inclui aprender a executar certos algoritmos passo a passo mecanicamente, como um computador faria, e sem erros. Muitos alunos não entendem que isso exige treino, e que isso é chato mas necessário - e pelas reclamações deles eu fiquei com a impressão de que eles acham que esse treino só faz sentido em cursos pra pessoas inferiores, que não pensam, e só repetem mecanicamente coisas que elas não entendem. Acho que este exemplo que eu vou dar agora pode ajudar a mostrar onde está o furo desse pensamento deles - lá vai. Em certos momentos nos cursos como Cálculo 2 e Cálculo 3 os alunos vão ter que encontrar qual é a fórmula certa - eles vão ter que fazer várias hipóteses, em que cada hipótese é uma fórmula diferente, e vão ter que testar essas hipóteses. Pra testar cada uma dessas fórmulas eles vão ter que aplicar a fórmula mecanicamente - como um computador faria - e ver o que acontece, e se eles não souberem aplicar fórmulas mecanicamente, babau. Agora vamos pra segunda interpretação - a em que a coordenação acha que os alunos estão certos quando eles dizem:
e conectam isso com:
Se vocês conhecerem algum professor que dê matérias que envolvam contas ou programação e que sejam pros primeiros períodos, e que tenha tido bons resultados se focando só no "entendimento conceitual", sem cobrar treinos com repetição e com tentativa e erro, por favor ponham ele em contato comigo!!! 2.5. Termo de Ciência e CompromissoO item 2 do ofício é:
O termo está aqui. Considere estes personagens:
Todos esses personagens são inspirados em alunos que eu já tive. Os alunos parecidos com os personagens A, B e C são raros, mas os alunos parecidos com os personagens D, E, F, G, H e I são muito comuns. Os alunos parecidos com os personagens A, B e C têm bons motivos pra quererem que eu corrija as provas de um modo que aceite os jeitos deles de escreverem as contas. Os alunos parecidos com os personagens D, E, F e G também querem que eu aceite os modos deles de escreverem as respostas, mas os motivos deles não são tão bons. O problema é que aqui no PURO os alunos parecidos com os personagens H e I são muito numerosos e são os que mais participam das aulas... e lembre que a gente quer maximizar tudo isso aqui:
Eu já tentei ter critérios de correção bem liberais, que aceitassem os modos de escrever dos alunos parecidos com os personagens A, B e C, mas não funcionou bem - muitos alunos reclamavam que os meus critérios de correção eram subjetivos demais, e muitos alunos aprendiam a escrever as contas deles de jeitos como este (veja PanicTp27 e 2jT69),
...em que eles não conseguiam encontrar sozinhos os erros nas suas contas e era bem difícil fazer eles entenderem o que estava errado. O melhor modo que eu encontrei de maximizar os 5 itens acima é estabelecer que os alunos vão ter que aprender um certo modo de fazer "contas com justificativas" - este aqui: PanicTp29, PanicTp30, PanicTp21 - que é muito parecido com o usado por proof assistants como o Lean... eu mostro o exemplo do screenshot à esquerda abaixo - adaptado da seção "Calculational Proofs" do "Theorem Proving in Lean4", mas explico que o Lean é beeem difícil de aprender, então a gente vai usar uma versão de "Calculational Proofs" em que eles podem usar o Maxima pra fazer boa parte das contas - como no exemplo do screenshot à direita abaixo, que também aparece aqui... Pra maximizar os 5 itens acima eu precisei encontrar um modo de dar o curso de Cálculo 2 que não é nada óbvio, e que não pode ser explicado em poucas frases. Se eu não fizer os alunos se comprometerem a ler o material que explica como o curso vai ser e o que vai ser cobrado nas provas muitos alunos vão estudar do jeito que o bom senso deles diz que é pra estudar, vão fazer as provas do jeito que o bom senso deles diz que é aceitável, e vão passar um tempão na vista de prova tentando me convencer de que eu tenho que corrigir as provas deles do jeito que eles acham que é certo... e com o termo de ciência e compromisso eles ficam bem menos perdidos, começam a estudar de jeitos "certos" bem mais rápido, e com isso eles conseguem otimizar o tempo deles e a chance deles serem aprovados - e aprenderem montes de coisas úteis - aumenta muitíssimo. 2.5.1. "Meu objetivo é reprovar pessoas como você"O anexo do ofício tem vários trechos em que os alunos reclamam de eu ter dito coisas como "Meu objetivo é reprovar pessoas que (X, Y, Z)". Isso só aparece no anexo - imagino que a coordenação não tenha achado que valia a pena mencionar isso no ofício - mas acho que vale a pena responder assim mesmo. Dê uma olhada nestas duas páginas ("slides"?) que estão bem no início do material de introdução a Cálculo 2 de 2024.1:
Elas explicam em que sentido eu ia usar expressões como "Meu objetivo é reprovar pessoas que (X, Y, Z)". Será que os alunos que fizeram as reclamações não leram essas páginas? Ou será que eles só preferiram fingir que não leram? E os membros do CAEPRO que organizaram as reclamações e participaram da reunião com a coordenação? Será que eles não leram essas páginas ou será que eles só preferiram fingir que não leram? Como vocês - coordenação e professores da Engenharia de Produção - lidam com situações assim?
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